terça-feira, 19 de junho de 2018

Houve um momento na minha vida em que eu decidi morrer. Não um simples drama, uma decisão real: prefiro não existir. Desde então eu aguardo a morte, não vivo. Penso em como será a falta de existência, o que eu irei me tornar? Se é que me tornarei alguma coisa... Olho para o mundo e vejo tudo como uma ilusão, tudo é fantasioso e superficial. Tento olhar de perto, e quanto mais perto chego, menos eu enxergo. E então eu me agarro aos sentimentos. Ao amor pelos outros, a dor que esse amor me causa. Reflito sobre mim mesma, olho pro espelho e tento me entender, não consigo. Deito no escuro e escuto os ruídos dos carros, dos vizinhos, sinto o cheiro da comida que eles preparam. Como conseguem? Como as pessoas conseguem? Sinto minha dor, me compreendo. Digo pra mim mesma que se eu for, vou fazer meus amados sofrerem. Mas não sinto vontade de viver, não sinto vontade de comer, nem de levantar da cama, nem de limpar minha casa, nem de lavar minhas roupas, nem de olhar nos olhos dos desconhecidos. Já me acostumei com meu aperto. Chamo de meu aperto, pois não consigo explicar o que é. Por que tudo existe? Por que vida? Se há vida, por que é assim? Eu não consigo ser feliz num mundo onde eu sei que todos os dias pessoas são agredidas, ofendidas, e mortas brutalmente. Quando me distraio com as ilusões e solto uma gargalhada, sinto meu aperto do mesmo jeito. Os outros me falam pra ter ânimo. Mas não entendem meu impasse: como ter ânimo se já decidi que prefiro não existir? Tem sido muito difícil viver, muito mesmo. Acordar é difícil, dormir eu só consigo com remédio... Uma forma que eu encontrei é o senso de humor, mas ninguém enxerga meu desespero por trás das piadas. É DESESPERO, GENTE! NÃO FELICIDADE...
Cheguei a enlouquecer, e uma vez enlouquecida, nunca mais fiquei lúcida realmente. Sou extremamente louca, extremamente abstrata. Minhas vontades não fazem sentido: olhar pro céu, olhar pro sol, olhar para as árvores, fechar os olhos. Ouvir músicas que parecem me entender... Mas o sentimento de solidão é tão imenso, se instala na minha mente, no meu corpo. É tão difícil viver sem querer. Diria que é injusto, mas o que é justiça? O que é certo e errado? Sou apenas um fenômeno que se aconteceu, me aconteci, me fiz. E agora aguardo ansiosa o momento de me desfazer. Já vi o que precisava, não quero estar aqui, não quero ser. Já não me iludo mais. Mas o bonito, é que ainda tenho a capacidade de amar. Então é pra isso que eu vivo, para amar mais, e continuar enlouquecendo com meu aperto e meu impasse.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Sinto o efeito do afeto
Mudei meu conceito sobre o que tá correto
Alguns querem bens, outros dividir teto
Quer viajar de leito enquanto eu quero estar perto
Só observo, não me vejo objeto
Que possa ser usado assim, então me entrego
Pior que meu jeito é um pouco diverso

Eu fico iluminada assim, nem me enxergo
Com você perto de mim não tem papo
Eu quero a vida inteira assim e não nego
Basta te encontrar, eu, você e o universo
Pra manter nosso clima assim, tão direto

Seu perfume é um sopro, com essência de afeto
É tão louco, o contato é tão pouco
Mas me inspira a escrever versos

Quando você parte leva junto a minha paz
Machuca o coração pensar que a gente pode não se ver mais
Não se ter mais
Me diz como faz pra te ter mais

Quando você parte leva junto a minha paz
Machuca o coração pensar que a gente pode não se ver mais
Não se ter mais
Me diz como faz pra te ter mais

Deitado na minha cama, acende um green
Dá um beijo em mim, cê fica bunitim
Assim, sem pose e sem medim
Vem comigo pretin, não para de me olhar assim

Quando a noite começa eu desconheço o fim
Quando você me abraça não disfarça o sim
Fica mais doce que cajuzim
Tão docin, tipo quindim

Tipo que aperta a mão e machuca
Dá vontade de banho de chuva
Te chamei pra viver uma aventura
Do naipe que eu abrace e me sinta segura

Conhaque ou sorvete de uva
Quero desfrutar da sua doçura
Vem... Que muito quero ser sua
E qualquer hora a gente volta pra rua

Se cobre de verde que tá friozin
Me acorda se eu dormir pra te dar um beijin
Sem pensar no que disseram sobre o nosso fim
Quando você parte é chegada a parte ruim
Ruim, ruim, ruim, ruim

Quando você parte leva junto a minha paz
Machuca o coração pensar que a gente pode não se ver mais,
Não se ter mais
Me diz como faz pra te ter mais

Quando você parte leva junto a minha paz
Machuca o coração pensar que a gente pode não se ver mais
Não se ter mais
Me diz como faz pra te ter mais

Flora Matos - Comofaz